Babel

As palavras são uma fonte de mal-entendidos, já dizia o Príncipe de Exupéry. Façamos delas, então, os alicerces da Babel. Talvez cheguemos ao milagre das línguas, ao pentecostes. Words, words, words.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Palavras, palavras, apenas palavras...



Durante certo tempo, pensei em iniciar este blog. No entanto, algumas questões surgiam:

Onde arranjar tempo para atualizá-lo?
Para que, talvez, mais um blog?
Sobre o que falar?

Alguns amigos incentivaram-me, disseram-me que um blog não é um jornal diário ou uma revista semanal e que o importante é escrever. A palavra é que importa.

Em relação ao porquê, eu mesmo encontrei justificativa. Acredito que todos têm o direito de fazer ouvir seu pensamento, sua voz, sua palavra. Na babel que a Internet talvez crie, o saber escutar por meio da leitura pode fazer com que reconheçamos as vozes que mais nos dizem respeito, mesmo que elas sejam ouvidas pela primeira vez. Sou agora mais um entre os milhões de blogueiros neste universo, mas também sou único, como você que me lê. Se minha palavra não tem a grandeza de muitos sóis dessas constelações, ela não deixa de ser uma estrela, se for percebida pela leitura atenciosa e pelo comentário do texto lido.

Words, words, words. Esse verso de Hamlet remete às palavras vazias. No entanto, elas - as palavras - têm vida quando nós sopramos sobre elas pela leitura a fim de que descubram seus sentidos a nós através dos sons e das imagens.

 Em relação ao que escrever, não é intento deste blog (pelo menos não agora) especializar-se em um determinado assunto, mas de expor visões, odores, tatos sobre o que nos dizem as palavras. É interesse meu também ler seu comentário. Espero poder ver sua palavra e fazer deste ambiente virtual um espaço de troca, de diálogo.

A palavra une, pois é de sua natureza ser sim-bólica, ela não pode ser dia-bólica, essa não é sua essência. Se ela divide, há um desvirtuamento.

Muitos cristãos celebraram ontem a Transfiguração do Senhor. Esse mythus (não sei se emprego bem esse vocábulo aqui, mas vá lá) é belo e expressa bem o poder da palavra: Cristo é a Palavra que se transfigura e revela o novo no já visto. Através do verbo, espero que possamos conhecer o comum e vê-lo, talvez, como novo.

Tomara que seja esta postagem um bom começo de nosso diálogo.


Sobre o poder da palavra sugiro os seguintes textos:


Neste romance, uma ditadura impede de a verdade ser conhecida, deturpando a palavra


Neste filme, uma professora consegue fazer com que jovens marginalizados transformem suas experiências em palavras, que, por sua vez, transformam suas vidas.





6 comentários:

  1. Fico feliz por você ter criado este espaço, onde percebemos a importância das palavras em nossas vidas.
    Que você navegue e se entregue com paixão a este ato de escrever, ler e dialogar, afinal nada mais parecido com você do que falar sobre algo que representa parte do pensamento humano.
    Lili

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  2. Ora, ora. Finalmente a ideia posta em prática! Espero mais postagens. Bises, Cinthya.

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  3. Meu caro Van.
    Sem dúvida, o blog é um espaço interessante para o exercício da escrita e, certamente, ele pode lhe ser muito útil.
    Quanto às palavras, discordo que elas sejam vazias. Estou lendo o Hamlet e elas me parecem cheias de significado a cada verso, a cada quadro composto pelo dramaturgo inglês. Também discordo que elas não sejam di-abólicas. A meu ver, a essência delas é esse dúplice: sim-bólico e di-abólico. Elas tanto unem quanto dividem - na vida, na arte, sempre.
    Cumpre ver texto do professor e escritor português Eudoro de Sousa, "O diabólico e o simbólico", da obra Filosofia, História e Mito.

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  4. Cara Luciana,
    Que bom saber que você está acompanhando o blog. Uma leitora tão lúcida tem muito o que contribuir com este espaço. Quero aqui fazer algumas observações.
    Quando Polônio interpela Hamlet e pergunta o que o príncipe está lendo, ele reponde com o verso "Words, words, words". Para Polônio, essas palavras não fazem sentido. E no contexto, talvez seja essa mesma a intenção de Hamlet.
    Quanto ao dia-bólico das palavras, penso que, apesar de elas muitas vezes dividirem, o objetivo da linguagem é agregar. Se elas destroem, devem ter um novo projeto de reconstrução - assim é na arte -, caso contrário, elas serão mesmo necessárias?
    Aguardo seu comentário sobre o texto Intolerância.
    Um grande abraço,
    Vandemberg

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  5. Já dizia o autor do Pequeno Príncipe: "Palavras são as fontes de desentendimento; o que é essencial é invisível aos olhos." Não acho que o fato da palavra ser simbólica exclui o seu quê de diabólico. Pelo contrário, não acho que o diabólico da palavra seja algo ruim. "Diabólico", "diálogo", é tudo a mesma raiz. O sentido de "desordem" e "confusão" do diabólico é a força mesma da palavra, que é plurissignificante, astuta, arredia e moleca. Sim, é preciso destruir para construir sentido. São os fragmentos do Benjamin, "a palavra que, ao trazer a luz de sua origem, que ao mesmo tempo destrói, sobrepõe-se àquela que em outro lugar encontra". Ainda: "a palavra é essencialmente plural e se funda na dessimetria e na irreversabilidade, ainda que entre duas palavras esteja implicada sempre uma relação de infinidade, como a própria significação".

    Mudando de assunto, sempre passo o "Freedom Writers" para os meus alunos; é um filme excelente, com uma bela interpretação da Swank. O "1984" ainda não li, tô me devendo.

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  6. O texto possui um lirismo bem peculiar. Gostei!

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